Divina Rebeldia
Rebelde. Esta fascinante palavra sintetiza toda a minha adolescência.
Temporária Transcendência.
Uma peculiar cria da pampa gaúcha. Indomável e Teimoso.
Para alguns, causa de ojeriza. Para outros, admiração. Para eu, independência.
Os professores diziam que era falha dos pais.
Os pais diziam que era o entorno social.
Eu, uma honesta e indelével escolha.
A preferência por tal estilo de vida foi uma clara resultante da intensa educação católica. Apostólica. Simbólica. Melancólica.
Desde criança me ensinaram a ter medo do Diabo e a temer a Deus.
A única solução, então, era o purgatório.
Mas este, parecia muito aleatório. Ilusório, portanto, refutatório.
Sobrava então, o Céu ou o Inferno.
Se fosse para o Céu, passaria o resto da vida escutando violinos e harpas, vendo anjos assexuados voarem e Deus sentado no seu iluminado trono celestial.
Quão enfadonha expectativa. Emocionalmente cansativa.
Por outro lado, se fosse para o infermo, passaria o resto da vida sendo cozinhado num caldeirão fervente, escutando horripilantes berros e, vez que outra, umas dolorosas farpeadas do tridente Luciferiano.
Esta, não era fastidiosa, mas tampouco desejável. Improvável.
De qualquer maneira, em ambas as situações passaria a eternidade vendo a mesma coisa, ou seja, com o tempo me acostumaria tanto com o Céu quanto com o inferno. Hodierno.
Conclusão…
Liberdade.
Libertinagem.
Rebeldia.
Até que um dia, depois de uma romaria, num sermão sobre Maria, o Bispo espôs uma alegoria. Nela, Ele falou com convicção, sobre o ato do perdão e o poder da absolvição.
Naquele instante, eu que ainda tinha medo dalgum deífico levante, havia encontrado um habeas-corpus para minhas escolhas pecantes.
Bastava confessar e, tudo isto, apenas antes de morrer.
Reconheço que imaginei a frustração do Diabo ao saber de minha descoberta. Inocente puberdade encoberta. Entreaberta.
Como resultado, pequei. Sonhei.
Inventei pecados. Alados. Apaixonados.
E assim, deixei para trás um rastro fulgurante de rebeldia. Alegria. Inesquecíveis fantasias.
Histórias que ainda acariciam o coração.
Mesmo que hoje, ele escute outra canção.
Nem céu, nem inferno, nem absolvição.
Atualmente e sempre, a verdade como luz e a unidade como orientação. (Tadany — 21 03 11)
PS: Para citar este rebelde pensar:
Cargnin dos Santos, Tadany. Divina Rebeldia.